"VENEZA DA SERRA" – CACIMBAS-PB: MEMÓRIA, HISTÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL LOCAL.

“Água das cacimba”: origem e localização da cidade.

O Médio Sertão, onde fica a Microrregião da Serra do Teixeira foi habitada pelos índios Cariris e Tarairiús que de acordo com Melo (2008), eram conhecidos com o nome de Tapuias. Os Cariri eram índios seminômades, se mudavam em busca de alimentos e melhores lugares para habitar e viver, ocuparam a região que hoje é Monteiro, São João do Cariri, Teixeira e Sumé. Ademais, tinham rede de algodão, plantavam, pintavam o corpo, também caçavam e coletavam frutos comestíveis. Para curar doenças e feridas como os demais povos indígenas faziam uso de plantas medicinais. Vários conflitos aconteceram entre povos indígenas e entre indígenas e colonizadores, um deles ficou conhecido como a Guerra dos Bárbaros conflito causado pelas disputas e pela ocupação territorial no Sertão paraibano.

Vale frisar que no período colonial o território que não fosse litoral foi identificado por Sertão, desta maneira, o interior [...] da Paraíba, sobre aquelas áreas que, atualmente, denominamos Agreste, Brejo, Cariri e Sertão. Para os portugueses, à época da colonização, todo o território além de vinte léguas da costa era Sertão. [...] (GURJÃO, 2008, p. 39). O povo Cariri não escapou a submissão, etnocídio, genocídio, miscigenação e o aldeamento, medidas tomadas pelos colonizadores portugueses para destruir a cultura nativa.

Cacimbas é uma cidade de pequeno porte, está localizada no Médio Sertão da Paraíba, na microrregião da Serra do Teixeira, a 293 km de distância da capital João Pessoa via BR-230. Sua população é de aproximadamente 6.814 pessoas, segundo os dados do IBGE de 2010, com uma estimativa de 7.225 para 2021. Cacimbas começou a ser povoada no início do século XX, quando as primeiras famílias chegaram na localidade:

 

Em 1913 vieram de Soledade a família de Francisco Martins da Cunha para morar no sítio Várzea do Lourenço. Em 1915, Tertuliano da Cunha chegou também com a família, comprou por 4 contos de reis uma parte das terras do sítio Várzea que ficou conhecido como Cacimba de Cima. Em 1916 chegou José Laurindo com sua família, descendentes da família Leite de Desterro, no mesmo ano 1916, José Laurindo comprou a outra parte do sítio Várzea do Lourenço ao senhor Alvino da Silva Marques, por quinze contos de réis. Essa outra parte do sítio delimita-se à nascente com as terras do sítio Caico, ao poente com a barra dos Dois Riachos, ao Sul pelas águas pendentes para a Várzea do Lourenço e a Norte pela estrada que segue para a Vila de Passagem. Essa outra parte aqui ficou conhecida como Cacimba de Baixo (Depoimento do senhor Antônio Araújo Leite às autoras, em 01 de novembro de 2021).

 

 

 Parte das terras, onde hoje se localiza a cidade supracitada, também foi comprada dos Dantas Vilar de Taperoá, mais especificamente do sr. Manoel Dantas Vilar (Manelito), foi sobrinho de João Suassuna e primo de Ariano Suassuna. Atualmente as terras da Fazenda Malhada da Onça pertencem ao Sr. Manoel Dantas Vilar Filho e com o processo de compra e venda de terras muitas famílias passaram a habitar nas terras das “cacimbas”.

Recebeu o apelido de “Veneza da Serra” em analogia a cidade italiana de Veneza, que foi construída em um território que continha pouca área seca e é cercada por água, Cacimbas por sua vez é cercada por Serras e riachos. A Oeste, os riachos Cipó e Tamanduá se encontram no sítio Dois Riachos e seguem em direção ao Riacho Quixaba, que por sua vez desaguam no Rio Taperoá. Os riachos que ficam no leste da cidade são: Riacho da Cachoeira, vem do sítio São João e Riacho do Cafuru, que vem da Vargem do Arroz, estes também desaguam no Rio Taperoá.   

Portanto, quando o Padre Jerinaldo Inácio de Lima – ordenado sacerdote da Diocese de Patos-PB em 26 de outubro de 2007 – no período que estagiou na Igreja de São José, atualmente Paróquia de São José, chamou carinhosamente Cacimbas de “Veneza da Serra”. Em períodos de seca a população cavava cacimbas (buracos para obter água), onde encontrava água potável para matar a sede, tanto das pessoas, quanto das criações de animais. Do mesmo modo, fazia e/ou ainda faz poços com o objetivo de obter água potável e aproveita os riachos para fazer pequenas barragens. A origem do nome é atribuída:

 

[...] aos tropeiros da Borborema, pois os mesmos chegando com suas tropas de burros trazendo as mercadorias de Campina Grande para comercializar, havia a necessidade da água para os animais. Indagaram a uma mulher que passava na região do bebedouro - ‘Dona onde eu encontro água para esses animais? – a mulher respondeu e apontou para o leito do riacho e disse: ‘cave aí umas cacimbas que sai água’, e assim fizeram, cavaram várias cacimbas. Na época da seca, quando chegavam de uma nova viagem diziam: ‘vamos para as cacimbas dar água para os animais’. Daí o nome as Cacimbas (Depoimento do senhor Antônio Araújo Leite às autoras, em 01 de novembro de 2021).

 

Foi cavando buracos nos riachos em busca da água que a “Veneza da Serra” ficou conhecida por Cacimbas. Por meio da memória e história oral o senhor, José Martins (in Memória), também enfatizou que caçadores costumavam cavar tais buracos para matar a sede. O fato é que até hoje, existem em Cacimbas os lugares que originaram o nome da cidade – cacimba. Atualmente, o município conta com abastecimento de água controlada pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA. Economicamente falando os munícipes vivem basicamente da agricultura, funcionalismo público e comércio de pequeno e médio porte. Mas no início do povoamento, os cacimbenses sobreviviam também da colheita da semente de mamona, plantio de algodão e sisal.

A população da cidade cresceu e com isso cresceu também a necessidade de melhorias. Então, lideranças da comunidade passaram a exigir que o governo local atendesse melhor os munícipes, com segurança, meios de comunicação, saúde, eletrificação, comunicação e mobilização, assim, foi criado o Distrito. Cacimbas foi elevada à Distrito pela Lei nº 5.168 de 11 de agosto de 1989 publicado no Diário Oficial do Estado no dia 18 de agosto do mesmo ano. Neste período contava com 5.500 habitantes.  Pela Lei Estadual Nº 5.905, de 29 de abril de 1994 foi desmembra do Município de Desterro-PB e emancipada politicamente, o governo foi instalado depois das eleições municipais de 1996 em 01-01-1997.

Com as emancipações as novas cidades passaram por grandes mudanças em todos os aspectos, antes deixada de lado pelo gestor da cidade a qual pertencia e por isso mesmo os cidadãos passavam por grandes dificuldades. Com uma economia voltada para a agricultura e a distância entre Distrito e a sede, tais fatos dificultavam a vida destes moradores. Agora sendo uma cidade e com recursos próprios, a vida dos munícipes tendeu a melhorar, facilitando assim, o acesso à educação, saúde, saneamento, abastecimento dentre outras melhorias (BEZERRA, 2012).

Um dos primeiros reservatórios de água construídos na cidade foi a Barragem, que em 2002 ganhou o nome de Teófilo Paulino – membro da família Terto. A princípio a água deste reservatório foi utilizada para as necessidades da casa e para os animais. Assim, este patrimônio ambiental serviu também de espaço para que as donas de casa lavassem roupas em períodos chuvosos.

imagem 01: barragem terceira reforma.
Imagem 01: terceira reforma da barragem.


Imagem 02: reforma atual.

Este reservatório foi construído em três etapas, a primeira em 1972, a segunda entre 1973 a 1977 e a terceira em 2002. Conforme a memória local, existiram neste lugar indícios de uma construção anterior a década de 1970. Os paredões foram derrubados para construir a barragem, com o objetivo de atender a necessidade da população, que neste período ainda era bem pouca. Neste sentido:

“[...] a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ele é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si.” (POLLAK, 1992, p. 5).

Este reservatório faz parte da memória e da identidade individual e coletiva dos cacimbenses. Em períodos de chuvosos este lugar, considerado patrimônio ambiental da cidade, costumava e/ou costuma ser visitado pelos munícipes como ponto turístico para banhos e diversão. Inclusive recebeu grupos de pessoas das cidades circunvizinhas e por muito tempo foi considerado o principal reservatório de água, até que outros reservatórios fossem construídos. 



Comentários

  1. Olá Deis, gostaria de ver a referência bibliográfica deste texto, é possível?

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